Tenho dois passarinhos de cerâmica na minha casa, presos um ao lado do outro no mesmo pedação de madeira. O primeiro está meio que olhando pra frente, meio que pra cima, o segundo está olhando discretamente pro primeiro. Tem algo de medroso no segundo passarinho. Parece que ele acha que o primeiro vai voar e deixá-lo sozinho ali no poleiro. Encurva as costas, abaixa-se um pouco, comprime-se de medo.
O mais justo que pode acontecer com os dois passarinhos, que ainda não aprenderam a viver nesse vai-não-vai, nessa vida-pela-metade, é um confronto com a faxineira maluca, que além de aranha, gosta de consertar as coisas até que elas se quebrem. A faxineira maluca tentaria, então, fazer com que o primeiro passarinho parasse de tentar voar, tentaria virá-lo para o segundo, tão apaixonado. Claro que o Durepoxi não aguentaria, e o primeiro passarinho iria, enfim, sair voando.
Memória de passarinho é curta (ainda mais passarinho de cerâmica!) e o passarinho solitário ficaria lá, olhando para o nada e tentando lembrar o quê que tinha no lugar daquela massa cinza presa tão aleatoriamente em seu bloco de madeira. Mesmo não sabendo o que tinha perdido (se a gente não sabe a gente não sente, não é?!), suas costas ainda estariam curvas, ainda estaria comprimido pelo medo de ter perdido algo importante - quem sabe um outro passarinho? Quem sabe seu barro-metade?
24.12.11
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