13.2.13

13.8.12

Tem gente que morre de meteorito na cabeça

Foi a estrela-cadente mais impressionante que já vi, valia uns dez desejos. Fiquei boquiaberto e olhei pro lado pra ver se a moça tinha visto. A moça olhava pros seus pés, nem aí pro céu, nem aí pra grandeza do universo. Eu já estava prestes a fechar os olhos e fazer um desejo quando ela me deu um beijinho na bochecha, me fez um breve cafuné e disse que queria ir pra casa. Aí nós nos levantamos e eu só fui pensar em meteoro e na grandeza do universo no outro dia de manhã.

24.7.12

Aula com uma criança de 4 anos

Eu e a pequenina colhíamos trevos e folhas de hortelã para fazer um buquezinho e dar pra sua mãe. A primeira demonstração de desapego foi quando, depois de separarmos os trevos maiores e mais bonitos, a pequerrucha rasgou o buquê pronto. 'Mas por que você fez isso?' eu perguntei, ao que ela respondeu 'Ai, calma, é só fazer outro...'

 'Olha, a folhinha do trevo é um coração!', ela disse e não me deu nem tempo de ver - já soprou a folhinha, dizendo tchau.

 Fizemos o segundo buquê de 'tevo', um de 'hotelão' e também achamos umas florzinhas brancas que já vinham em buquê, e eu insistia em levarmos os presentes pra sua mãe. Mas a pequena queria brincar agora com as formigas.

 'Vamos entrar um instantinho pra eu beber um copo d'água, já, já a gente volta a brincar' - estávamos na parte de fora da casa e eu não podia deixá-la sozinha.

 'Você precisa tomar água agora?'

 'Preciso.'

 'O que vai acontecer se você não tomar? Você vai morrer?' - perguntou a menininha em tom de deboche. 

Você venceu desta vez, pequenina.

3.7.12

Amigo velho

Eu e um tio meu, sempre bem velho, caçávamos mosquitos quando eu era mais criança (digo 'mais' porque a minha curva de desenvolvimento se Deus quiser vai pular o estágio adulto - vou direto de criança a sexagenário. Melhor, serei sempre uma criança sexagenária). Eu era o Batman, ele o Robin, e ele me chamava de 'amigo-velho'. Era ótimo porque eu me sentia tão ele quanto achava que ele se sentia eu. Ele tinha o triplo da minha estatura e o óctuplo da minha idade, mas tudo o que importava é que o meu mata-moscas e o dele tinham o mesmo tamanho e o mesmo poder, só que um era azul e o outro amarelo.

11.5.12

Eletrogastrocardiograma

Acho que todo mundo já ouviu alguma história de alguém que achava que estava tendo um ataque cardíaco, mas no fim das contas tinha apenas gases. Deve ser uma situação um tanto desagradável, humilhante até. Essa confusão cardiogástrica, contudo, não termina sempre em flatulência. Não é que outro dia eu estava certo que estava com uma azia braba, mas uma moça muito bonita veio a mim e eu vi que era amor, mesmo?!

7.5.12

Naufrágio

Segunda-feira é o amigo natimorto de Robson Crusoé.

19.3.12

Necrópole

Um dia um deles pulou o muro e não voltou mais. Foi então que os mortos descobriram que podiam, sim, fugir do cemitério. Às vezes um ou outro voltava para praticar jogging ou ler um livro embaixo de uma árvore apodrecida, mas era raro ver defunto por lá. O cemitério virou, então, ponto de recanto - todos os vivos da cidade eventualmente se cansaram de tanto morto andando pelas ruas e o cemitério era o lugar mais silencioso que se podia encontrar.

Diferente do que o desavisado possa pensar, a cidade inteira ficou muito mais viva quando os mortos é que iam trabalhar e pegar trânsito na hora do rush e os vivos é que ficavam no cemitério, hedônicos e antivitais, como fossem duas condições indissociáveis...