22.6.11

Santa baleia

A baleia decidiu pular pra fora d'água. Não se sabe por quê... Se nem eu, o Escritor, descobri, não vá ter essa pretensão! Tarefa difícil, mas a baleia sabia! Era jubarte, e as jubartes têm aquele semblante sabido, mas sofrido, que só as jubartes têm. Na hora do pulo, os bichos vieram todos torcer por ela: tinha peixe-palhaço, tubarão-martelo, pepino-do-mar, água-viva, camarão-pistola - de tudo!

Chegou a hora e a baleia pulou - e não foi a surpresa de todos ver que a baleia sabia voar?!

20.6.11

Eu

Odeio quando os escritores fazem referências difíceis de compreender. Mas eu também faço! Tem a ver com narcisismo, disse a um amigo outro dia. Tem coisa mais narcisista que se esconder dos outros?!

Eu era fera no jogo de esconde-esconde, quando pequeno. Hoje, quando vou publicar um texto, tenho que relê-lo à procura de uma porção de 'eus' que saí espalhando por aí. Mesmo assim, quando vejo um 'eu' desnecessário, fico procurando motivo pra deixá-lo ali. Porque eu quero me esconder - mas me apagar para sempre?! Deus me livre!

Eterno retorno

Na verdade, é o maior medo de todo mundo pensar que o agora pode virar eterno! É o que todo mundo tenta driblar. E o pior de tudo isso é que esse medo é que nem medo de altura: a gente sabe que não vai cair, mas...

Lembra daquele demônio que entrou no teu quarto enquanto você lia aquele pedacinho do A Gaia Ciência? Pois é, se você naquele momento achou que diria que ele era um deus, se enganou (acho que eu também cheguei a achar que diria isso, pobre de mim). Quisemos, na verdade, esganá-lo e arrancar suas asinhas.

Porém você muito provavelmente não se lembre de demônio nenhum, aí só te digo que fostes abençoado e nunca terá te acontecido nada tão divino! E a grande diferença é que eu não vou entrar pela tua janela pra dizer isso, vou dizer daqui mesmo.

16.6.11

Das lentes

Sempre que me imagino lendo aqueles textos de teorias, aquelas coisas que lêem os jovens semibarbados que gostam de falar em alemães que morreram há tempos e de outros jovens semibarbados que agora são velhos senis, me imagino de óculos. Mas, ora! Nunca precisei de óculos - e nem acho que um dia vá precisar, vejo tudo com tanta clareza (ah, a humildade dos narradores em primeira pessoa!)...

Então é isso. Por mais semibarbado que eu seja e por mais palavras germânicas que eu possa saber pronunciar, aí está o maior impeditivo de tornar-me um 'intelectual' (argh, meus dedos travam só de pensar):

Não tem nada entre meus olhos e o mundo que eles miram.

João pode

João faz seu primeiro telefonema - Alô, Tiago?! Aparece aqui em casa agora, vamos trocar umas idéias!

João faz seu segundo telefonema - Alô, Marilda?! Tô indo pra tua casa agora pra tomar uma cerveja! Até mais!

João faz seu terceiro telefonema - Alô, Fabrício?! Não, tudo bem, te encontro lá no Batista daqui uns minutos!

João, que não era burro nem sacana, não combinou tudo com todo mundo por nenhum outro motivo que não o seguinte:

Tinha ânsia em viver.

(O que eu não deveria contar pra ninguém é que, feito tudo isso, João foi pra cama, satisfeito!)

2.6.11

Da amizade privada

Quintana, meu poeta mais querido,
Devo-lhe minha vida, ó, companheiro!
Mas admito que fico um pouco constrangido
De encontrar-te somente no banheiro...