27.11.11

Oito patas

Tem uma faxineira na minha casa que gosta de aranhas. Tenho certeza que é isso, nenhuma faxineira seria tão ruim em sua profissão a ponto de deixar tantas aranhas viverem no meu quarto. Ela gosta de aranhas, e por isso não as mata nem lhes tira as teias. Sempre me dei bem com os aracnídeos, então isso tudo só me incomoda em uma instância:

Em vez de um ser de 8 patas, o que espero para a minha cama, tenho sempre um ser de 12.

As Sereias

Não sei bem se as sereias da mitologia grega cantavam e atraíam os navegantes por diversão ou se por inerência a serem sereias. De qualquer forma, trabalhavam como que coletoras de almas e eram responsáveis pela coleta, claro. Vou contar a história de um homem que era muito diferente do herói Ulisses. O nome dele eu já não sei.

A Guerra de Tróia estava em seu ápice e quantos navios carregados de guerreiros não passavam por aquelas águas?! Ulisses, quando passou pelos rochedos em que habitavam as sereias, fez o mais esperto: colocou cera no ouvido de seus tripulantes (quiçá cera da mesma marca daquela que derreteu nas asas de Ícaro) e amarrou-se no mastro do navio. O nosso guerreiro, porém, que não era nenhum Odisseu, passou reto pelos rochedos e ouviu, sim, o canto lindo das sereias, mas não levou sua embarcação à morte - nosso herói esquecera sua alma em casa, com sua mulher e suas maravilhosas tortas de mel, e mesmo tendo achado o canto das mulheres-peixe a coisa mais maravilhosa do mundo, não havia o que entregar-lhes. Quer dizer, até poderia entregar-lhes sua carne, mas elas estavam de barriga cheia.

20.11.11

Sábio lagartim

A lagartixa, depois de nem se lembrar mais o que era isso, ficou feliz. Soubera acostumar-se a viver sem seja lá o que estivesse lhe faltando, uma cabeça, uma cauda... Soubera parar de se perguntar. E agora, que via a caudinha despontar do fim de seu corpo, abria um sorriso!

(Ainda que a cauda fosse de um verde rajado estranho que não combinava em nada com o marrom-apartamento do resto de seu corpo)

7.11.11

O Muro

Tem gente que se diz forte e topa qualquer parada. Mas o mundo é, no mínimo, obstáculo, e elas topam é de cara no muro - logo aquele que julgavam ser facilmente transponível, desde que o coração entregasse-se à revolução. Aí vem o inesperado: vitimizam-se, umas às outras, e exigem que aquele muro duro caia por si só, pois, ora, é o que um muro, quando coerente, deve fazer! Pois, minha gente, devo alertar-vos:

Muro nenhum foi feito pra cair e se vocês querem tanto assim levá-lo ao chão devem esforçar-se um pouco mais...