7.1.12

Amor fati

Existe uma rã que no alto do inverno canadense enterra-se em meio ao húmus e à terra congelada e hiberna. Acorda somente quando o inverno vai embora. Ela não é o único animal capaz de morrer pra reviver depois, mas quiçá seja o único anfíbio (se meu interesse pelos bichos fosse mais que um interesse desprendido, afirmaria com certeza). Bichos interessantes, os anfíbios. A respiração cutânea me fascina, mas me fascinaria muito mais se eles pudessem sentir cheiros pela pele, também. Acho que a evolução privou-os dessa habilidade inútil, assim como privou a nós da bioluminescência.

Voltemos à rã canadense: o legal dela é que ela é uma rã - pula, come insetos, nada no lago - como qualquer outra, a não ser pelo fato de morrer por uns meses antes de voltar à vida. A morte pra esse anuro é anual, e nada a preocupa menos. A rã é forte, não há dúvida, mas o que não sabe é que ela ao congelar-se perde muito de si mesma. Suporta, tão somente, tudo que a aflige; dissimula-se.

Muito mais impressionante que a rã é um fungo que foi achado nas paredes da usina de Chernobyl. O fungo não fez como os ucranianos e os russos das redondezas (ou, que fique claro, como a rã que tem medo de frio), não fugiu pra cidade mais longe. O fungo se alimentou da desordem e cresceu.

A diferença, então, é essa: os seres humanos adoram imitar a rã canadense quando deviam imitar é o fungo comedor de radioatividade, quando deveriam dizer somente sim, inclusive ao frio mortal do inverno canadense.

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