21.11.09

Lincença Poética

Estava eu, em um dia ensolarado, sentado em um banco de praça a alimentar os pombos. Já havia 45 minutos que eu estava lá, e já havia 30 minutos que um homem me mirava. Ele usava uma casaca bege e cerrada até o último botão - certamente escondia algo, até porque a temperatura relativa do ar era altíssima. Veio até mim e começou a falar:

- 'Tarde, senhor. Gostaria de estar comprando uma mercadoria de inestimável valor?

Curioso, decidi perguntar do que se tratava a oferta.

- Gostaria de adquirir tal mercadoria, se me confirmasses o inestimável valor que dizes que ela tem.

Então ele abriu a casaca e eu vi. Não sabia o que era, não me lembrava de ter visto aquilo alguma vez em minha vida. Mas senti umagnética atração, estranha e completa. Fui obrigado a perguntar:

- O que é isso?

- Isso, meu bom homem, é algo de se morrer buscando. Se trata de uma Licença Poética. Ganhei esta jovem, de meu avô, e fiz bom uso. Mas vejo que é hora de passá-la a quem precise. E você e seus pombos, Deus me disse, precisam.

- Minha curiosidade me leva a aceitar. Quanto pedes pela Licença?

- Uma barganha, meu amigo, uma barganha. Duas moedas quaisquer e ela é sua.

- Duas moedas?! Quaisquer moedas?!

- Sim.

Fiz a compra, tive de fazê-la. E hoje digo: pior negócio que poderia alguém fazer em toda a vida.

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